O documentário de Daniel Augusto e Eduardo Rajabally tem nas mãos um assunto inesgotável, essa Amazônia imensa, rica, misteriosa, cobiçada e alvo de todas as mistificações, até por parte daqueles que pensam, sinceramente, na proteção de seus recursos naturais. Sendo o assunto vasto que é, comete-se no filme o pecado de tentar dar conta de mais assuntos do que seus 70 minutos comportam. E o formato ostensivamente televisivo, a partir de música e narração onipresentes e de um excessivo picote nas entrevistas, pesam contra a reflexão que o próprio filme tenta instalar, tornando-o mais superficial do que suas intenções declaradas. Não poderiam faltar alguns números espetaculares – a Amazônia é do tamanho da Europa, concentra 20% da água doce do planeta, 1/5 do carbono do mundo. Por isso, aquilo que afeta seu equilíbrio, como o desmatamento, tem o poder de mudar o clima do planeta, como se sabe há muito tempo. O acerto do documentário está em procurar instaurar um contexto histórico na exploração da região, analisando rapidamente a visão dos militares durante a ditadura militar, que abriu caminho à entrada da pecuária extensiva, de baixo rendimento e alto impacto ambiental. Também são lembradas as estradas de rodagem questionáveis, como a BR 163, há 40 anos inconclusa e produzindo efeitos nefastos sobre a floresta e as populações indígenas. Pelo pouco tempo e amplo espectro a que o filme se propõe, vai-se muito rápido na análise desse complexo conflito de interesses que contrapõem índios, garimpeiros, fazendeiros, sem-terra, políticos, organizações e celebridades internacionais. Recaindo, por vezes, num didatismo excessivo – como explicar o que é “grilagem” -, Amazônia Desconhecida corre demais na superfície do que aborda e frustra na formação de uma visão mais abrangente do que está em jogo nesse pedaço tão importante do Brasil e do mundo, e de tudo que há por trás desse imenso guarda-chuva a que hoje se dá o nome de “sustentabilidade”.