Alem do tempo
Eduardo Gusmão de Quadros
(CEHILA/UEG/UCG)
Resumo: O que pretendemos nesse artigo é rever uma noção de historicidade que consideramos incompleta. Nossa tese básica é que o tempo futuro constitui uma peça chave tanto na atuação histórica quanto na escrita do passado. O demonstraremos comentando o papel da profecia nas obras de padre Antônio Vieira, Enrique Dussel e Walter Benjamin.
Palavras-chave: tempo, profecia, historiografia, futuro
O profeta é então o protótipo dos historiadores...
Enrique Dussel
Nada mais intrínseco às atividades dos historiadores que pensar através do tempo. Mas há diferenças entra pensar através do tempo e pensar o próprio tempo. Ele não se configura somente nas narrativas, no encadeamento dos fatos, nas cronologias e periodizações construídas. Como lembrava Agostinho, possui uma dimensão existencial difícil de definir conscientemente1. É esse o problema que colocamos em foco nesse artigo, abordando de modo mais especifico como o futuro, geralmente excluído das reflexões historiográficas, delimita o conhecimento e a escrita do passado.
Vieira e a visão
Redigir a História do Futuro é uma idéia estranha. A princípio, um paradoxo. O conhecimento do que aconteceu deve ser distinto do que poderia acontecer. Não é isso que caracterizaria o discurso histórico conforme Aristóteles?2 Mas será que essas barreiras cronológicas são absolutas? Ou até que ponto as temporalidades coligadas pelo presente podem ser realmente separadas?
Foi numa época onde as contradições eram esteticamente apreciadas – o Barroco - que a dita obra fora escrita. Padre Antonio Vieira, seu autor, chegou a ser aprisionado pelo Santo Ofício por causa das idéias ali expostas, mas depois da sua morte o qualificador da Inquisição lusitana autorizou a publicação com formas bem elogiosas3.
No livro, então, o oximoro do curioso título é explicado. Profecia não é história, não existindo semelhança nem na forma