ALADI
Capítulo cinco
- O senhor andou mal adquirindo a propriedade sem me consultar, gritou Mendonça do outro lado da cerca. - Por quê? O antigo proprietário não era maior? - Sem dúvida, respondeu Mendonça avançando as barbas brancas e o nariz curvo. Mas o senhor devia ter-se informado antes de comprar questão.
- Eu por mim não desejo questionar. Creio que nos entendemos.
- Depende do senhor. Os limites atuais são provisórios, já sabe? É bom esclarecermos isto. Cada qual no que é seu. Não vale a pena consertar a cerca. Eu vou derrubá-la para acertarmos onde deve ficar.
Ponderei ao velho Mendonça que ele já tinha encolhido muito as terras de São Bernardo. Pedi-lhe que mostrasse os seus papéis. Não sendo possível acordo, era melhor vir o advogado e vir o agrimensor.
- Ótimo! Arranjava-se com os tabeliães e metia-me no bolso. Mas eu não vou nisso. Derruba-se a cerca. Contei rapidamente os caboclos que iam com ele, contei os meus e asseverei que a cerca não se derrubava. Explicações, com bons modos, sim; gritos não.
E abrandei, meio arrependido, porque não me convinha uma briga com Mendonça, homem teimoso.
O que eu não queria era baixar a crista logo no primeiro encontro.
Casimiro Lopes deu um passo; toquei-lhe no ombro e ele recuou. Mendonça compreendeu a situação, passou a tratar-me com amabilidade excessiva. Paguei na mesma moeda, e como ele precisasse de uns cedros que havia perto de Bom-Sucesso, ofereci-lhe os cedros. Recusou, propôs trocá-los por novilhas zebus. Declarei que não tencionava criar gado indiano, falei com entusiasmo sobre o limosino e o schwitz.
Mendonça desdenhava as raças finas, que comem demais e não agüentam o carrapato: engordava garrotes para açougue.
Insisti no oferecimento da madeira, e ele estremeceu. A nossa conversa era seca, em voz rápida, com sorrisos frios. Os caboclos estavam desconfiados. Eu tinha o coração aos baques e avaliava as conseqüências daquela falsidade toda. Mendonça