Adormecida
Numa rede encostada molemente...
Quase aberta o roupão... solto o cabelo
E o pé descalço do tapete rente.
‘Stava aberta a janela. Um cheiro agreste
Exalavam as silvas da campina...
E ao longe, um pedaço do horizonte,
Via-se a noite plácida e divina.
De um jasmineiro os galhos encurvados,
Indiscretos entravam pela sala,
E de leve oscilando ao tom das auras,
Iam na face trêmulos – beijá-la.
Era um quadro celeste!... A cada afago
Mesmo em sonhos a moça estremecia...
Quando ela serenava... a flor beijava-a...
Quando ela ia beijar-lhe... a flor fugia...
Dir-se-ia que naquele doce instante
Brincavam duas cândidas crianças...
A brisa, que agitava as folhas verdes,
Fazia-lhe ondear as negras tranças!
E o ramo ora chegava ora afastava-se...
Mas quando a via despeitada a meio,
P’ra não zangá-la... sacudia alegre
Uma chuva de pétalas no seio...
Eu, fitando esta cena, repetia
Naquela noite lânguida e sentida:
“Ó flor! – tu és a virgem das campinas!
“Virgem! – tu és a flor da minha vida!...”
Na 1ª estrofe o poeta cria através da percepção subjetiva (“EU” lírico) a imagem da mulher amada. Ela é construída por uma visão de sensualidade através do uso dos adjetivos (encostada molemente, quase aberto, solto, descalço). Enquanto que os elementos noite, rede, roupão, cabelo e tapete, criam o ambiente íntimo desta mulher, sugerindo a cumplicidade da intimidade e a proximidade dele e da amada.
Na 3ª estrofe o poeta utiliza elementos da natureza para insinuar o clima de sensualidade e encantamento que eleva essa mulher.
Na 3ª e 4ª estrofe, ao personificar os elementos da natureza (galhos encurvados / indiscretos entravam pela sala.../ Iam na face trêmulos beijá-la.) e colocá-los em contato físico com a amada o poeta constrói uma cena de sensualidade e desempenho amoroso.
A utilização repetitiva de versos no pretérito imperfeito (estremecia / serenava / beijava) e a