Admirável Mundo Novo
A má qualidade deve ser identificada, reconhecida e, se possível, evitada no futuro. Esmiuçar as deficiências literárias de vinte anos atrás, tentar remendar uma obra defeituosa para levá-la à perfeição que não teve em sua primeira forma, passar a nossa meia-idade procurando remediar os pecados artísticos cometidos e legados por aquela outra pessoa que éramos nós na juventude - tudo isso, certamente, é vão e infrutífero.
Eis por que este novo Admirável Mundo Novo sai igual ao antigo. Seus defeitos como obra de arte são consideráveis; mas para corrigi-los, eu teria de reescrever o livro - e, ao reescrevê-lo, como uma outra pessoa, mais velha, provavelmente eliminaria não apenas as falhas da narrativa, mas também os méritos que pudesse ter tido originariamente. Assim, resistindo à tentação de chafurdar no remorso artístico, prefiro deixar o bom e o mau como estão e pensar em outra coisa. Entretanto, parece-me que vale a pena mencionar pelo menos o defeito mais grave do romance, que é o seguinte: O
Selvagem é posto diante de duas alternativas apenas, uma vida de insanidade na Utopia, ou a vida de um primitivo numa aldeia de índios, vida esta mais humana em alguns aspectos, mas, em outros, pouco menos estranha e anormal. Na época em que foi