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O bom senso está muito errado ao pensar que o passado é fixo, imutável, invariável, quando comparado ao fluxo em contínua mutação do presente. Pelo contrário, pelo menos dentro de nossa própria consciência, o passado é maleável e flexível, mudando constantemente na medida em que nossa memória reinterpreta e reexplica o que aconteceu.1
Esta é a história do assassinato de John F. Kennedy tal como os jornalistas norte-americanos têm repetido ao público e a si mesmos. Para a maioria dos norte-americanos adultos, a memória dos eventos de 22 de novembro de 1963 é indelével e aguda. Para os jornalistas norte-americanos esse dia tem uma importância adicional. Aqueles a quem tinha sido incumbido de “cobrir o corpo” - o termo jornalístico que significa seguir o Presidente onde quer que ele vá - estavam simplesmente fazendo seu trabalho, patrulhando um setor jornalístico. Entretanto, para aqueles que estavam de serviço em Dallas naquele dia, o termo assumiu inflexões mórbidas. “Cobrir o corpo” tornou-se um nome de código para a cobertura do cadáver de Kennedy, um índice literal dos eventos que até hoje perturbam a memória da maioria dos norte-americanos. A posição assumida pelos jornalistas e pelos media dos EUA nessas memórias é o objeto do presente livro. O que os fez porta-vozes confiáveis, legítimos e privilegiados da história do assassinato é uma trama cheia de nuances e reviravoltas derivada de uma concepção popular que promove diretamente os jornalistas à posição de observadores legítimos e confiáveis do “mundo real”. Contudo, das discussões sobre Watergate às lembranças da Guerra Hispano-Americana ou do desastre do Hindenburg em 1937, o jornalismo está cheio de exemplos que deveriam fazer com que as pessoas questionassem o direito dos repórteres de contar as notícias. Poucas pessoas analisam que fatores tornam os media mais bem equipados para oferecer uma versão “privilegiada” da realidade.