Acumulação produtiva no capitalismo
As transformações do capitalismo contemporâneo têm chamado a atenção por sua virtualidade, imaterialidade e pelo desenvolvimento de formas cada vez mais abstratas de riqueza. Essa realidade faz parecer que, ao contrário do que pensavam os economistas clássicos, a criação de valor prescinde da produção e do trabalho. Mais ainda, no campo da economia política de inspiração marxista ou heterodoxa, o inchaço do capital financeiro (Tauile e Faria, 1999) que se verificou após a crise dos anos 70 levou alguns autores a vislumbrar a inauguração de um novo regime de acumulação em escala internacional, caracterizado por uma dominância financeira (Chesnais, 1997b).
Em nossa maneira de ver, muitos dos pressupostos de um novo regime de acumulação podem ser vislumbrados na onda de inovações em curso, nas transforma-
* Do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Av. Pasteur, 250, Rio de Janeiro/RJ (e-mail: tauile@ie.ufrj.br) e da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Av. João Pessoa, 80, Porto Alegre/RS (lufaria@ufrgs.br). [Submetido: agosto 2002; aceito: maio 2003.] ções no mundo do trabalho e da produção, nas mudanças institucionais em curso. Entretanto, no que respeita à dominância financeira, nossa posição segue os passos de Braudel (1979) e Arrighi (1994), que apontam, não para uma nova forma da acumulação capitalista, mas sim para uma fase de declínio e transição da etapa anterior, caracterizada por uma hegemonia necessariamente temporária da forma dinheiro e da fração financeira da classe burguesa e que sempre veio acompanhada por um aumento da instabilidade do sistema. O retorno a um caminho sustentado do movimento de acumulação de capital só pode ter lugar após o declínio dessa hegemonia e apenas a partir disso se abre a possibilidade de um novo estágio de desenvolvimento, em um novo regime de acumulação, com o centro do poder econômico retornando à esfera da produção.
A visão de Marx