Acadêmica
Sempre usando de um humor alfineteiro, em seu artigo que trata sobre o preconceito lingüístico tão presente em nosso cotidiano, Bagno objetiva desmitificar certas “afirmações que já fazem parte da imagem (negativa) que o brasileiro tem de si mesmo e da língua falada por aqui” (p. 59), expondo, principalmente aos docentes, os fatores que somam para isso.
Tais afirmações constituem e dividem o texto em quatro subtítulos, e no decorrer deles, elas são contestadas e reafirmadas como mitos.
No primeiro momento o autor critica a comparação pejorativa do português do Brasil ao de Portugal, afirma que nenhum é melhor do que o outro, que há apenas diferenças, pois têm gramáticas distintas. Em seguida nega a afirmação de que “o português é muito difícil” (p. 60), assegura que “todo falante nativo de uma língua sabe essa língua” (p. 61). Contrariando a afirmação que “as pessoas sem instrução falam tudo errado” (p. 62), ressalta que tal “preconceito linguístico é decorrência de um preconceito social” (p. 63). O linguista não desmerece a forma padrão para a escrita, porém afirma que não se pode ignorar as formas naturais que a língua toma, abdicando por fim da afirmação que “o certo é falar como se escreve” (p. 66).
Discorrendo de uma forma muito agradável, trazendo exemplos fáceis de interpretar e usando de linguagem acessível, o professor dá ao seu texto um poder de abordagem ampla, porém continua sendo concreto o suficiente para quem procura um conteúdo mais técnico. Muito debatido entre linguistas e gramáticos o tema levanta polêmica e, como é muito bem discernido neste artigo de sequência clara e agradável, pode ser um ótimo meio de iniciação aos estudantes interessados no assunto e prontos a tomar um partido.
Marcos Bagno é professor do Departamento de Línguas Estrangeiras e Tradução da Universidade de Brasília, doutor em