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SOBRE A IDENTIDADE DOS LUGARES*
MARIA ELAINE KOHLSDORF
* Brasília, fevereiro de 1999. Artigo apresentado em worshop e curso de extensão em Fortaleza, promovidos pelo IPHAN, Faculdade de Arquitetura da
UFCe e Prefeitura Municipal.
As cidades falam. Nos contam histórias e sua história, evocam nossas lembranças, despertam expectativas e nos convidam a dialogar com os lugares por onde passamos. A esse convite, respondemos por meio de emoções diversificadas: a surpresa do inesperado, a angústia quando estamos desorientados, a curiosidade para iniciar um novo percurso, a tranqüilidade, o pânico, a excitação, a tristeza, a monotonia, a agressividade, a nostalgia e tantas outras possibilidades. E também a alegria de sentir-se subitamente em casa a mais de 1 000 km dela. Reparar nessas conversas não é nenhuma novidade, como temos notícia pelo conhecido diálogo entre Faístos e Sócrates, datado do século III a.C.:
“Não reparaste, ao caminhar por essa cidade que, entre os edifícios que a constituem, alguns são mudos e outros falam? E que há ainda outros que, finalmente - sendo os mais raros - até cantam?”
Acredita-se que a primeira informação transmitida pelos lugares refira-se a sua identidade, quando nos dizem onde estamos e como podemos ir dali para outro lugar. Naturalmente, podemos obter essa informação por vários meios, perguntando a alguém, consultando mapas ou atentando para placas com nomes de logradouros e outros símbolos. Da comunicação verbal aos símbolos simbólicos, porém, todos esses meios utilizam-se de indicações espaciais, ainda que elas compareçam formatadas por cada um dos códigos empregados.
Mas é precisamente o enquadramento das informações em regras próprias aos códigos que limita sua utilidade, pois nesses casos a comunicação abre-se apenas aos que conhecem os idiomas, seja o falado ou escrito, seja o dos mapas, seja ainda o dos símbolos gráficos.
A linguagem mais abrangente na cidade é falada pela forma física