Abril despedaçado
A história se passa no início do século e segue Tonho, filho do meio da família Breves, impelido pelo pai a vingar a morte do seu irmão mais velho, vítima de uma luta ancestral entre famílias pela posse da terra. Se cumprir a missão, ele sabe que sua vida ficará partida em duas: os 20 anos que ele já viveu e o pouco tempo que lhe restará para viver. Ele será então perseguido por um membro da família rival, como dita o código da vingança da região. Angustiado pela perspectiva da morte e instigado pelo seu irmão menor Pacu, Tonho começa a questionar a lógica da violência, da tradição e da perpetuidade. Questionamento que ganha mais força ainda quando dois artistas de um pequeno circo itinerante cruzam o seu caminho: O filme é baseado no livro Abril Despedaçado de Ismail Kadaré sobre o Kanum - o código que regulamenta os crimes de sangue na Albânia A partir do livro de Kadaré, Salles faz uma aculturação brasileira do Kanun, resultando em que a história que se passa em abril de 1910, se torne atemporal e contemporânea. A vingança entre famílias ocorre devido à ausência do estado regulador - como foi o caso dos Pires e Camargos em SP - e Feitosas e Montes no Ceará Em Abril Despedaçado, os Breves - são latifundiários da mono cultura da cana - decadentes. Os Ferreiras são latifundiários em expansão - criadores de gado. As mulheres da família são conformistase e embora sofram terrivelmente com a perda de seus filhos, se tornam coadjuvantes na manutenção do inexorável ciclo da vingança.
A libertação e a mudança No momento em que Tonho consegue derrubar as barreiras, ele se transforma e consegue alargar sua visão de mundo. Afloram então as questões da fraternidade - da descoberta do afeto - e da redenção trazida pela presença significativa do outro (no caso Pacu, o suporte ético do filme e Clara, a plenitude do amor) Tonho deixa de ser objeto da ação dos outros, evidenciado uma verdade inquestionável: quando não somos sujeitos de nossas