Aborto
No Uruguai, onde o aborto é legalizado, as mulheres que desejam interromper a gravidez são acolhidas por equipes multiprofissionais. No Brasil, elas acabam morrendo em clínicas clandestinas ou por falta de atendimento
Duas tragédias recentes trouxeram o tema aborto para a pauta da mídia brasileira. Jandira, de 27 anos, dois filhos, desapareceu após sair de casa para interromper uma gravidez indesejada. Ela mandou uma mensagem ao companheiro dizendo que estava com medo. Seu corpo, carbonizado, foi encontrado quase um mês depois. Elizângela, de 32 anos, mãe de três filhos, também foi vítima da violência e da insegurança do aborto clandestino. Seu corpo foi abandonado em frente a um hospital.
Ambos os casos ocorreram no Rio de Janeiro. A morte se tornou um destino comum não só para elas, mas para todas as mulheres pobres, principalmente as negras, que desejam interromper a gravidez. O aborto é a quinta causa da mortalidade materna no Brasil, segundo o Conselho Federal de Medicina (CFM).
“A legislação que criminaliza o aborto no Brasil é que é criminosa”, afirma a assistente social e integrante do movimento feminista SOS Corpo, Verônica Ferreira. “Essa legislação ceifa a vida das mulheres, como o movimento feminista tem denunciado há tantas décadas. A criminalização do aborto leva as mulheres que precisam interromper a gravidez a buscarem clínicas clandestinas, cuja qualidade se desconhece”, argumenta. Como se já não bastasse enfrentar o medo, a angústia e a insegurança que vigora em um ambiente de criminalização.
“O contexto atual no Brasil, de fechamento de clínicas, a desinformação e mentiras propagadas pelos setores conservadores, profissionais de saúde denunciando mulheres em clínicas públicas, todo esse contexto que alimenta a perseguição e condenação das mulheres, tem agravado a clandestinidade do aborto, e deixando-as em situação de ainda maior vulnerabilidade, buscando, sozinhas e sem