Aborto
Será o que aborto é eticamente permissível? O grande objetivo deste trabalho incide neste problema base: o problema ético do aborto, o qual pretendo esclarecer devidamente. Este problema recebe uma abordagem totalmente filosófica. Ainda que possamos ter convicções religiosas ou ideologias fortes, defendemos a nossa posição ética apelando unicamente á racionalidade partilhada por todos sem invocar argumentos apenas com sentido para os que aderem. Conjuntamente, os ensaios selecionados desenvolvem os argumentos e contra-argumentos mais fortes que cada uma das partes tem para oferecer, proporcionando uma introdução aos aspetos centrais do debate filosófico sobre a ética do aborto. É inegável que este debate está acentuadamente polarizado, mas importa observar que, em rigor, não existem apenas duas posições possíveis a respeito da permissividade do aborto, já que tanto os críticos como os defensores do aborto podem avançar a sua posição básica com maior ou menor radicalidade. Entre os que subscrevem a posição pró-escolha (ou “liberal”), alguns pensam que abortar é sempre permissível, mas outros revelam-se dispostos a aceitar que, a partir de uma certa fase (bastante avançada) da gravidez, o aborto torna-se objectável ou mesmo profundamente errado. Do mesmo modo, alguns defensores da posição pró-vida (ou “conservadores”) declaram que abortar é sempre impermissível ou errado, mas outros demarcam-se desta perspectiva absolutista, afirmando apenas que o aborto é errado prima facie e admitindo, portanto, algumas circunstâncias excecionais em que abortar é uma opção eticamente aceitável. As exceções mais salientes dizem respeito aos casos em que a continuação da gravidez põe em risco a vida da mulher; a gravidez resultou de um ato de violação; ou o feto sofre de deficiências ou doenças que afetam muito negativamente a sua qualidade de vida expectável. O crítico do aborto pode também sustentar que é permissível destruir o zigoto ou o