Aborto
Por envolver noções de vida e morte, encerrar uma gestação não pode ser nos termos de certo ou errado, sugerem os filósofos. A possibilidade da decisão do STF no caso de fetos anencéfalos, mais uma vez adiada, reacende a discussão no Brasil
Alcino Eduardo Bonella
Normalmente, quem condena o aborto também condena qualquer lei que permita sua prática segura; e quem defende a descriminalização não vê nenhum problema ético no aborto. Uns olham somente para o feto, outros apenas para a mulher. É possível, porém, considerarmos o aborto uma coisa ruim e ao mesmo tempo não concordar que ele seja um crime punível com prisão. Podemos ser contra o aborto, mas a favor do direito da mulher ao aborto.
Em geral, contra o aborto, alega-se que: é errado matar um ser humano inocente (premissa maior, normativa); um feto humano é um ser humano inocente (premissa menor, factual); portanto, é errado matar um feto humano (conclusão). Em favor do direito ao aborto, em geral, argumenta-se contra a segunda premissa acima: um feto humano não seria, desde o início da gestação, um ser humano desenvolvido, pois ele se forma gradualmente.
Tirar a vida de uma pessoa é um dos maiores danos que se pode causar a ela: primeiro, se a morte subtrai um futuro valioso, cheio de benefícios que seriam vividos pela vítima; segundo, se a pessoa não quer ser morta; terceiro, se a morte também causa danos à família e à sociedade da vítima; quarto, se o interesse da vítima em continuar vivendo for protegido como um direito quase absoluto.
Mas, por causa do erro de matar alguém como nós, em geral, algumas pessoas pensam que também é errado tirar a vida do feto. Em alguns aspectos, o feto se parece com um de nós, por exemplo, ele está vivo, é um ser humano. Mas em outros aspectos ele não se parece com um de nós: o embrião não é ainda um organismo, o feto precoce não tem a capacidade de sentir e ser consciente; mesmo um feto desenvolvido ainda não é autoconsciente e autônomo.
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