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(Tradução de Graça Videira Lopes, a partir do original castelhano de
Garcí Rodríguez de Montalvo; no final deste ficheiro, o leitor encontrará uma breve nota sobre o romance e os problemas – autoria, nacionalidade, etc. – que coloca, bem como sobre os critérios seguidos nesta tradução) 1
PRÓLOGO
Considerando os sábios antigos, que os grandes feitos das armas deixaram em escrito, quão breve foi aquilo que com efeito verdadeiramente nelas se passou, assim como as batalhas do nosso tempo que [por] nós foram vistas nos deram clara experiência e notícia, quiseram, sobre algum cimento de verdade, compor tais e tão estranhas façanhas, com que não apenas pensaram em deixar perpétua memória aos que a elas foram afeiçoados, mas também que fossem lidas com grande admiração, como nas antigas histórias dos gregos e troianos e outros que batalharam aparece por escrito.
Assim o diz Salústio, que tanto os feitos dos de Atenas foram grandes quanto os seus escritores os quiseram aumentar e exaltar. Pois se no tempo destes oradores, que mais nas cousas da fama que do interesse ocupavam os seus juízos e fatigavam os seus espíritos, acontecera aquela santa conquista que o nosso muito esforçado Rei fez do reino de Granada, quantas flores, quantas rosas por eles seriam inventadas sobre ela, assim no tocante ao esforço dos cavaleiros, nas revoltas, nas escaramuças e perigosos combates e em todas as outras cousas de confrontos e trabalhos que para tal guerra se aparelharam, como nos esforçados razoamentos do grande Rei aos seus altos homens nas reais tendas ajuntados, e as obedientes respostas por eles dadas e, sobretudo, os grandes elogios, os crescidos louvores que merece por haver empreendido e acabado jornada tão católica! Por certo, creio eu que tanto o verdadeiro como o fingido que por eles fosse contado na fama de tão grande príncipe, com justa causa, sobre tão largo e verdadeiro cimento, pudera tocar nas nuvens; como se pode crer que,