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Dermeval Saviani2/UNICAMP
O recurso à categoria “século” para datar e demarcar os acontecimentos e as fases históricas é uma prática recorrente entre os historiadores, especialmente quando o objeto de estudo incide sobre as épocas moderna e contemporânea. Assim é, também, no campo da história da educação, como o ilustram os casos de Luzuriaga, História da educação pública
(1959) e História da educação e da pedagogia (1973), Manacorda (1989) no livro História da educação: da Antigüidade aos nossos dias e Franco Cambi (1999), História da pedagogia. O século XX, mesmo antes de seu término cronológico, já fora objeto de análises procurando apreendê-lo em seu conjunto, na tentativa de efetuar um balanço de sua trajetória e significação histórica. A esse respeito chamam atenção duas obras cujos títulos aparentemente contradizem uma à outra. Trata-se de Era dos extremos: o breve século XX
(1914-1991), de Eric Hobsbawm (1995) e O longo século XX, de Giovanni Arrighi (1996).
Ambas foram publicadas na Inglaterra em 1994.
Quando voltamos os olhos para a situação brasileira parece-me que a idéia de um
“longo século XX” não deixa de exercer uma certa atração. Com efeito, as transformações mais decisivas do nosso país nos planos econômico, político, social, cultura e educacional parecem se situar nas duas décadas finais do século definido cronologicamente pelo número
XIX e não na virada cronológica para o século XX ou na primeira guerra mundial. Assim, se optássemos pela categoria “breve século” teríamos que deslocar o início do século XX brasileiro para 1930. Mas a explicação desse marco inaugural nos obrigaria a recuar aos anos de 1880, pois é nesse momento que foram gestadas as condições que desembocaram nas transformações condensadas na expressão “Revolução de 1930”.
Em consonância com o quadro acima traçado, também a educação será considerada, neste texto, no âmbito do “longo século XX”, cujo marco inicial é dado