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Em todos os momentos desta construção amadiana, vejo um arcabouço de ironias, montado provisoriamente para não apenas opor e aproximar cidade grande (São Paulo) e cidade pequena (Sant´Ana do Agreste), mas, sobretudo, para mostrar o ser humano em sua luta para manter-se conforme os padrões herdados dos mais antigos e, em muitos instantes, não absorvidos completamente pelo imediatismo do uso corriqueiro, porém julgados necessários para impor respeito e acatamento sociais a seus usuários.
Preliminarmente, começa o autor da narrativa, na fase inicial do primeiro episódio, com a advertência:
Começo por avisar: não assumo qualquer responsabilidade pela exatidão dos fatos, não ponho a mão no fogo, só um louco o faria. Não apenas por serem decorridos mais de dez anos mas sobretudo verdade cada um possui a sua, razão também, e no caso em apreço não enxergo perspectiva de meio-termo, de acordo entre as partes. (AMADO, 2000: 2)
A questão da credibilidade do enredo a ser contado é colocada à prova no jogo ficcional entre o verdadeiro e o verossimilhante, tirando o narrador proveito da situação para testar seu leitor nas opções do convencional (o verdadeiro) e do não-convencional (o verossimilhante). O contador da história exime-se da “responsabilidade” de emitir qualquer testemunho frente a “exatidão dos fatos”, afirmando, peremptoriamente, numa