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Moema Cotrim Saes*
Resumo
Abstract
Esta leitura do conto “A cartomante”, de Machado de Assis, prioriza a ironia como elemento fundador do discurso, demonstrando o quanto este mecanismo subverte gênero, foco narrativo, personagens e máximas, gerando sentidos. This study is based on the reading of the short story “A Cartomante,” by Machado de Assis, focusing on irony as the founding element of discourse. It shows that such mechanism could subvert literary genre, narrative focus, characters and maxims, creating meanings.
Keywords
Palavras-chave
Dramatic; Ironic Ambiguity; Irony;
Maxims; Narrative Focus; Narrator;
Subversion.
Ambiguidade Irônica; Dramaticidade;
Foco
Narrativo;
Ironia;
Máximas;
Narrador; Subversão.
* Faculdade Integrada de Mirassol – FAIMI – 15130-000 – Mirassol – SP - Brasil. E-mail: faimi@faimi.edu.br
Olho d’Água, São José do Rio Preto, 1(2): 99 - 107, 2009
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Por sua própria natureza fluida, a ironia pode explorar tanto as figuras de linguagem e outros recursos sintáticos quanto a estrutura de uma obra, resvalando na intenção do narrador ou, mesmo, na visão do Autor (FOUCAULT, 1980). Esta relação dialógica entre discurso e ironia dá a esta uma maleabilidade, ou, mesmo, versatilidade, permitindo-lhe efetivar-se tanto em um simples enunciado como em uma construção narratológica.
Uma manifestação irônica, esteja ela no riso do cômico ou no amargo do sarcasmo, apoia-se em um processo de subversão que pode estar expresso nos gestos de uma personagem, no discurso de um narrador, na fala de um homem, na imagem de um pintor. O efeito, ou, mesmo, a função de uma ironia é, justamente, isto: subverter, transgredir o sentido comum. Há, nela, uma intenção de desmistificar, desvelar um pseudo-real, tanto no âmbito diegético quanto no extradiegético.
No conto “A Cartomante”, de Machado de Assis (1992), a figura do narrador tornase preponderante para a perspectiva irônica, pois é ele quem transgride e subverte o sentido