18 formas
Sebastian Morales Escoffier
Nos primórdios do cinema, quando ele ainda era mudo, as seções eram acompanhadas por um ou mais músicos que faziam a sonorização ao vivo. No entanto, na maioria dos casos, os encarregados do som não tinham uma partitura pré-estabelecida, deixando o intérprete com total liberdade. Qualquer filme podia então ser alterado substancialmente de acordo com o músico da vez, ou mesmo refletir o seu estado de animo no momento. Assim, nesses primórdios do cinema era bastante improvável assistir duas vezes o mesmo filme, pois cada seção era um evento único no qual o músico tornava-se um autentico autor cinematográfico com a sua própria trilha sonora.
Os três últimos filmes do diretor argentino Raul Perrone, P3ND3JO5, Ragazzi e Fávula tentam reinterpretar também, através da música as imagens cinematográficas.Os filmes combinam características formais do cinema mudo, como a imagem em preto e branco, o jogo com a íris e os intertítulos (no sentido amplo), com ritmos inspirados na cumbia, techno e rock . A partir disso, Perrone se apropria de certos elementos fundamentais da história do cinema, construindo assim uma linha vermelha que vai desde os filmes de Murnau e Dreyer ate a poesia de Pasolini, passando por uma estética punk.
A apropriação do cinema mudo por parte de Perrone não é simplesmente algo obvio. Em Favula, por exemplo, Perrone utiliza o plano de rosto que Dreyer pus em cena no filme A Paixão de Joana d'Arc. Em ambos, se encadeia uma serie de rostos que permitem expressar uma certa potencialidade. Os primeiros planos, sem necessidade de outro elemento conduzem a narração ate um clímax, que embora não narrativo, é pelo menos emotivo.
No entanto, os traços dos personagens são muito diferentes e é assim que mais uma vez, a capacidade de Perrone de reinventar uma tradição aparece. Com Dreyer sempre há algo solene, são rostos sérios e ameaçadoras, são as figuras de pessoas que têm um