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INDIVÍDUO
E SOCIEDADE
Anita Cristina de Azevedo Resende*
Resumo: O texto discute a relação indivíduo-sociedade e seus impasses a partir das contribuições de Freud e Marx. Problematiza a relação do indivíduo consigo, com a realidade objetiva, o outro e o trabalho. Postula a reciprocidade constitutiva dos termos dessa relação e o aparato ideológico que afirma sua negação.
Palavras-chave: cultura e sujeito, relação indivíduo-sociedade, socialização do indivíduo
“a máquina do mundo se entreabriu para quem de a romper já se esquivava e só de o ter pensado se carpia”
Carlos Drummond de Andrade
A
reflexão sobre indivíduo-sociedade não pode fixar essas duas realidades como autônomas, distintas, independentes, dicotômicas ou ausentes em reciprocidade. Ela deve se definir mais no sentido de apreender a relação existente entre o indivíduo e a sociedade, com as suas tramas e nexos aparentes e ocultos, do que descrever, caracterizar ou buscar laços comuns entre esses elementos.
Isso porque a relação indivíduo e sociedade não é tranqüila nem linear. Possui componentes de tensão, conflito e antagonismos entre o subjetivo e o objetivo, a vida individual e a vida coletiva, em interrelação e espaço de embate. Essa tensão e antagonismo, no entanto, não se pode dizer que impeçam um movimento constante de criação e recriação da vida individual e da vida coletiva. Ao contrário, mesmo tensionados, indivíduo e sociedade se constituem num processo único.
Sua relação é, portanto, bastante complexa e, para ser apreendida, deve ser desdobrada em seus elementos constitutivos essenciais. educ , Goiânia, v. 10, n. 1, p. 29-45, jan./jun. 2007.
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No pensamento contemporâneo, sobrevive uma tendência de considerar tanto o indivíduo como a sociedade como realidades distintas.
No geral, o conceito de sociedade costuma estar referido a uma unidade indissolúvel, funcional e integrada, que se estabelece sobre estruturas imutáveis e cristalizadas e corresponde ao resultado da soma de