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Considerações históricas sobre a difusão do pensamento kleiniano no Brasil*
Jorge Luis Ferreira Abrão
Este artigo tem por objetivo apresentar os diferentes momentos que caracterizaram a difusão do pensamento kleiniano nas Sociedades de
Psicanálise do Brasil. Trata-se de uma pesquisa histórica de natureza qualitativa, realizada com base em entrevistas com 13 psicanalistas que participaram dessa difusão. As primeiras influências surgiram a partir de
1950, por intermédio de pioneiros que fizeram formação na Inglaterra ou na Argentina. As áreas em que os kleinianos foram pioneiros – psicanálise de crianças e análise de psicóticos – constituíram-se nos primeiros focos de utilização deste referencial no país. De 1950 a 1970, evidenciou-se uma apreensão dogmática das idéias kleinianas. A partir de 1980, com o advento de novas traduções da obra de Melanie Klein, e com a introdução do pensamento kleiniano contemporâneo, constata-se uma utilização mais equilibrada deste modelo teórico-técnico.
Palavras-chave: Psicanálise, história, Brasil, Melanie Klein
* Artigo elaborado a partir da tese de doutorado intitulada A tradição Kleiniana no Brasil: uma investigação histórica sobre a difusão do pensamento kleiniano, defendida em 2004 no Instituto de Psicologia da USP.
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PSICOPATOLOGIA
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Segundo Phyllis Grosskurth (1992), Melanie Klein mostrou-se preocupada, no final de sua vida, com a sobrevivência de sua obra. No entanto, com o passar dos anos, o sistema conceitual kleiniano mostrou-se bastante sólido e revigorado, seja por intermédio das ampliações teóricas introduzidas pelos seguidores mais próximos ou pela expansão do interesse pelas idéias kleinianas, em diferentes partes do mundo, tanto na América Latina, onde elas tiveram grande aceitação, quanto em regiões que outrora foram refratárias a esta vertente do pensamento