02 Medeiros
Carlos Aguiar de Medeiros
Introdução
A crise financeira que atingiu drasticamente em 1997 algumas economias do Leste e Sudoeste Asiático foi interpretada de muitas formas. Emerge hoje, pelo menos entre autores não monetaristas, a percepção de que esta possuiu um eixo comum: o acúmulo de capitais voláteis de curto prazo em relação às reservas disponíveis tornou os regimes cambiais vigentes insustentáveis, provocando intensa onda especulativa e fuga de capital com conseqüente colapso do câmbio e do preço dos ativos domésticos. As suas causas imediatas foram a abertura e desregulação financeira e a valorização da taxa de câmbio real. Devido ao alto endividamento de curto prazo do sistema bancário, o colapso do câmbio e dos ativos levou a pronunciada crise financeira e a um credit crunch responsável por intensa contração econômica em 1998 – a maior, em toda a região, desde 1930 – e à bancarrota de inúmeros bancos e empresas.2 Esse movimento ocorreu na Coréia do Sul, na Tailândia, na Indonésia e nas Filipinas e, com algumas variações, na
Malásia. Com a assistência do FMI, os dois primeiros países e a Malásia, sem a chancela do Fundo, retomaram nos últimos anos elevadas mas instáveis taxas de crescimento. Graças a estrito controle sobre a conta de capitais, a China, Taiwan,
Cingapura e a Índia passaram ao largo da crise financeira ainda que não de suas repercussões. As atuais circunstâncias impõem um complexo conjunto de interrogações.
Assim, por exemplo, não está claro até que ponto a recuperação econômica do primeiro grupo de países e as atuais condições na região sinalizam um retorno ao regime de crescimento pré-crise; ou até que ponto as circunstâncias externas e internas alteraram-se conferindo à crise de liquidez e suas conseqüências, em termos de política econômica, dimensões estruturais mais amplas. Ao contrário da periferia latino-americana, onde os estados nacionais aderiram de forma
incondicional