“A fábula inumana” e “As monstruosidades do homem”
O texto começa com descrições perturbadoras sobre a quantidade de matéria de que um corpo é feito: sua quantidade de gordura, de ferro, de açúcar, de fósforo, de maneira que decompondo o sistema a que chamamos de indivíduo vemos essas quantidades de matéria que teriam valores irrisórios.
Descrições como essa são comuns nos dias de hoje onde a soberania do método científico e o domínio da técnica trouxeram essa tendência fragmentadora até mesmo a experiências singulares como é a percepção de um corpo. A certeza da individualidade pela forma não é segura e já não existe percepção do individuo mas sim a identificação da matéria que o constitui, que pode ser devidamente separada e medida.
Essa “perda da forma” traz o incômodo da dissolução dos corpos e não deixa de ter relação com o processo de putrefação dos cadáveres, onde o homem é obrigado a encarar sua natureza material absolutamente transitória e perecível, trazendo a percepção do objeto/homem que ele é, e do que ele será.
Naturalmente esse processo de desfiguração do humano traz reflexões acerca de sua identidade e criando um grande sentido de vazio sobre as certezas que a forma e a imitação das formas forneciam. Esse processo de descentramento do sujeito traz uma incerteza no que concerne a auto-imagem e consequentemente na distinção entre real e irreal ou aparente, entre matriz e duplo, e justifica as afirmações da autora cerca da natureza quase artificial do humano.
Diante dessa evidencia da condição de objeto do homem, ao questionar sua própria