Charles Baudelaire
"Uma capital não é absolutamente necessária ao homem*
Senancour
A Boêmia
A boêmia surge em Marx num contexto revelador. Ele aí inclui os conspiradores profissionais, de que se ocupa na deta lhada resenha das Memórias do Agente Policial de la Hodde, publicadas em 1850 na
Nova Gazeta Renana. Rememorar a fi- siognomonia de Baudelaire significa falar da semelhança que ele exibe com esse tipo político.
Marx assim o delineia: “Com o desenvolvimento das conspirações proletárias surgiu a necessidade da divisão do trabalho; os membros se dividiram em conspiradores casuais ou de ocasião, isto é, operários que só exerciam a conspiração a par de suas outras ocupações e que, só com a ordem do chefe, freqüentavam os encontros e ficavam de prontidão para comparecer ao ponto de reunião, e em conspiradores profissionais, que dedicavam todo o seu serviço à conspiração, vivendo dela... As condições de vida desta classe condicionam de antemão todo o seu caráter... Sua existência oscilante e, nos pormenores, mais dependente do acaso que da própria atividade, sua vida desregrada, cujas únicas estações fixas
WALTER BENJAMIN
são as tavernas dos negociantes de vinho — os locais de encontro dos conspiradores —, suas relações inevitáveis com toda a sorte de gente equívoca, colocain-nos naquela esfera de vida que, em Paris, é chamada a boémia”
De passagem, deve-se observar que o próprio Napoleão III iniciara sua ascensão num meio que tinha muito em comum com o descrito.
Um dos instrumentos do seu período governamental foi a Sociedade de
10 de Dezembro, cujos quadros, segundo Marx, haviam empregado
"toda a massa indefinida, diluída e disseminada por toda a parte, a qual os franceses denominam a boêmia”.2 Durante seu império,
Napoleão aperfeiçoou hábitos conspirativos. Proclamações surpreendentes, tráfico de segredos, invectivas bruscas e ironias impenetráveis constituem a razão de Estado do Segundo Império.
Tornamos a achar