Bazinga
34288 palavras
138 páginas
O apelo do macabro espectral é geralmente restrito porque exige do leitor um certo grau de imaginação e uma capacidade de distanciamento da vida cotidiana. São relativamente poucos os que se libertam o suficiente do feitiço da rotina diária para responder aos apelos de fora, e as histórias sobre emoções e acontecimentos ordinários ou distorções sentimentais comuns dessas emoções e acontecimentos sempre ocuparão o primeiro lugar no gosto da maioria; com justeza, talvez, já que o curso dessa matéria sem nada de particular, constitui a parte maior da experiência humana. Mas a sensibilidade está sempre em nós e, às vezes, um curioso rasgo de fantasia invade algum canto obscuro da mais dura das cabeças, de tal modo que soma nenhuma de racionalização, reforma ou análise freudiana pode anular por inteiro o frêmito do sussurro do canto da lareira ou do bosque deserto. Está presente nisso um padrão ou tradição psicológica tão real e tão profundamente enraizado na experiência mental quanto qualquer outro padrão ou tradição da humanidade; contemporâneo do sentimento religioso e em estreita relação com muitos aspectos dele, e uma parte integrada demais em nossa herança biológica mais profunda para perder sua contundência sobre uma minoria muito importante, embora numericamente pequena, de nossa espécie.
INTRODUÇÃO À ULTIMA EDIÇÃO
AMERICANA
O falecido Howard P. Lovecraft (1890-1937) foi provavelmente o escritor mais notoriamente perdulário da moderna literatura americana, e nada mostra tão bem esse atributo como o longo ensaio O Horror Sobrenatural na Literatura. Nele, o mais importante dos sobrenaturalistas norte-americanos desde Poe formulou a estética da história de horror sobrenatural, sumariou de forma magistral o domínio conhecido dessa classe de ficção, ministrando um guia de leitura e um ponto de vista a toda uma geração de escritores e leitores — e depois, para todos os efeitos práticos, jogou o ensaio no lixo.
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