Ética
Luiz Jean Lauand
O homem, diziam os antigos, é fundamentalmente um ser que esquece. Nesta tese, também ela hoje esquecida, convergem profundamente as grandes tradições do pensamento oriental e ocidental.
Para os antigos, neste ponto dotados de maior sensibilidade do que nós, era evidente a existência de uma entrópica tendência humana ao esquecimento. Naturalmente, não se trata aqui do periférico (não nos esquecemos do aniversário da caderneta de poupança, nem da data da final do campeonato), mas do essencial: ao sabor da rotina do quotidiano, são as questões decisivas que se vão embotando - "0 que é ser homem?"; "Quem sou eu, afinal de contas?"; "O que é a felicidade?" etc. Esse misto de desatenção e esquecimento a que o homem contemporâneo está especialmente sujeito acabou por criar uma crise de caráter espiritual, de orientação, de sabedoria e de moral. Uma crise tanto mais grave quanto muitos dos seus protagonistas mal suspeitam (pelo menos de modo consciente) de que essa carência existe e de que realmente é uma carência. Buscam-se as soluções definitivas para o profundo mal-estar do homem moderno em campos onde elas não podem estar: na economia, na tecnologia, nas ciências, nos movimentos ecológicos ou revolucionários, mas deixam-se sem resposta as questões mais decisivas.
Mais do que nunca, fala-se hoje, no Brasil, em Ética e Moral. A insistência no tema em discursos de campanha política nada mais faz, em geral, do que tentar capitalizar um anseio forte e urgente de toda a população. De aposentados a estudantes secundaristas, ninguém aguenta mais: "Moralidade já!", "Ética na política e nas relações sociais!".
Sob certo ponto de vista, não deixa de ser surpreendente esse clamor: afinal, a moral não foi precisamente uma das realidades "abolidas" pela geração contestatária, sob o signo de 1968? Mas o fato é que a moral não se deixa substituir facilmente, "assim sem mais", pelos novos ideais do individualismo massificado,