Álvaro de Campos
PORTUGUÊS 12ºANO 2013-14 Profª Pilar Medeiros
ÁLVARO DE CAMPOS
I. FASE DECADENTISTA
Esta fase poética de Álvaro de Campos é apenas constituída por um único poema,"Opiário", que nos revela um sujeito poético doente e inadaptado ao mundo e à vida.
Vejamos, então, os aspectos fundamentais deste poema: o ópio como um falso lenitivo - "Por isso eu tomo ópio"; desencanto face à inutilidade da vida;
"realismo satírico" de alguns versos, denunciador de um fatalismo tipicamente português - "Pertenço a um género de portugueses / Que depois de estar a Índia descoberta / Ficaram sem trabalho"; confessionalismo provocatório contra o statu quo burguês - "A vida sabe-me a tabaco louro. / Nunca fiz mais do que fumar a vida"; sede de novas sensações - "Ao toque adormecido da morfina / Perco-me em transparências latejantes".
"Opiário" foi oferecido a Mário de Sá-Carneiro e escrito enquanto navegava pelo Canal do Suez, em março de 1914.
É antes do ópio que a minh'alma é doente.
Sentir a vida convalesce e estiola
E eu vou buscar ao ópio que consola
Um Oriente ao oriente do Oriente.
Esta vida de bordo há-de matar-me.
São dias só de febre na cabeça
E, por mais que procure até que adoeça, já não encontro a mola pra adaptar-me.
Em paradoxo e incompetência astral
Eu vivo a vincos de ouro a minha vida,
Onda onde o pundonor é uma descida
E os próprios gozos gânglios do meu mal.
É por um mecanismo de desastres,
Uma engrenagem com volantes falsos,
Que passo entre visões de cadafalsos
Num jardim onde há flores no ar, sem hastes.
Vou cambaleando através do lavor
Duma vida-interior de renda e laca.
Tenho a impressão de ter em casa a faca
Com que foi degolado o Precursor.
Ando expiando um crime numa mala,
Que um avô meu cometeu por requinte.
Tenho os nervos na forca, vinte a vinte,
E caí no ópio como numa vala.
Ao toque adormecido da morfina
Perco-me em transparências latejantes
E numa noite