Águas de caruaru
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Sandra Neiva Coêlho, Médica Nefrologista, Professora Titular de Nefrologia, Departamento de Medicina Clínica, Universidade Federal de Pernambuco, Recife, PE, Brasil.
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O acidente ocorrido no Instituto de Doenças Renais (IDR) em Caruaru, PE, durante o mês de fevereiro de 1996 transformou a história e a prática clínica da hemodiálise. A contaminação da água utilizada para hemodiálise com microcistina, uma toxina de cianobactéria, causando a morte de 65 pacientes trouxe várias lições a comunidade médica e a sociedade civil.
O IDR funcionava há 10 anos mantendo cerca de 130 pacientes sob tratamento dialítico. A cidade de Caruaru, com 217.430 habitantes e situada a 135 Km de Recife, apresenta um clima semi-árido, com temperatura variando entre 20 a 38oC ao longo do ano. A água é escassa e com fornecimento irregular na cidade. Estas condições provocaram a utilização de água transportada por caminhão pipa e sem tratamento adequado. Dessa forma, a água que abasteceu ao reservatório da clínica estava contaminada com toxina de ciano-bactéria.
A maioria dos pacientes apresentaram toxemia. Posteriormente cerca de 50% desses evoluíram com coagulopatia, acometimento do sistema nervoso central e insuficiência hepática seguida por óbito.
O quadro clínico não era característico de nenhum contaminante conhecido anteriormente em unidades de hemodiálise. As hipóteses investigadas, embora sem confirmação, foram as seguintes: leptospirose, intoxicação por cloro, metais pesados, contaminação por agrotóxicos, resíduos de ácido cresólico e fenólico, infecção por bactérias ou vírus.
O diagnóstico etiológico definitivo foi identificado pela Profa. Dra. Sandra Azevedo, Coordenadora do Núcleo de Pesquisas de Produtos Naturais - CCS - UFRJ. O seu conhecimento sobre a biologia das cianobactérias ou algas cianofícias permitiu associar o quadro clínico dos pacientes do IDR a contaminação por uma toxina produzida por essas algas. Em seguida foi concluído que a