Água
Fui uma criança gordinha. Aos 14 anos, cansado dessa condição e vendo meus irmãos praticarem natação, decidiu iniciar-me nesse esporte. Na primeira competição, nadei só metade dos 100 m na piscina. Foi um vexame, mas não desisti. Um pouco mais tarde, ainda influenciado pela família, passei para o polo aquático. Buscando novos desafios, aos 22 anos tentei o triatlo, competição que envolve corrida, ciclismo e natação. Três anos depois, participei de meu primeiro Ironman Brasil - versão do que ocorre no Havaí (EUA), uma das provas mais extenuantes do planeta, com distâncias de 3,8 km de natação, 180 km de ciclismo e 42 km de corrida -, atingindo a marca de 11 horas de percurso.
Cada vez mais animado, em 94 estreei no campeonato mundial no Havaí, com tempo de 10h31. Tudo ia bem até que, realizando um tratamento ortomolecular, o médico pediu um exame chamado ecocardiógrafa e constatou um problema cardíaco congênito chamado comunicação interarterial - ou seja, havia um defeito no septo que divide os átrios, o qual provocou o desvio de sangue do lado esquerdo para o direito. Fui aconselhado a abandonar o triatlo. Não queria parar e procurei outro especialista, que apontou a cirurgia como única alternativa. Não era uma operação simples. Meu peito ficaria aberto por mais de seis horas, o corpo estaria ligado a aparelhos, levaria 35 pontos no tórax, os próprios médicos não davam garantias... Embora “com medo, arrisquei”.
Depois da cirurgia, meu primeiro 'treino' foi à caminhada de 20 metros pelo corredor do hospital, segurando a mão de minha mãe e já pensando nas competições. Um ano e meio depois, voltei ao Ironman mundial, com um tempo de 9h31, sendo o 3º brasileiro mais bem colocado e o 15º do mundo na categoria de 25 a 29 anos. Treinava duro, de seis a oito horas por dia, com o objetivo de fazer a próxima prova em 9h.
Então, enfrentei outro