S Focles
Mergulhar na problemática das origens do homem, se por um lado é rebuscar o inocente, que a Bíblia revela antes da Queda, é, por outro, o confronto com a realidade do livre arbítrio, a liberdade da criatura humana poder escolher entre o Bem e o Mal. Já o mergulho na mesma problemática, nas águas também ancestrais com dois milénios e meio, das obras trágicas de Sófocles- sobretudo no triângulo Sófocles-Édipo-Antígona - é, sem dúvida, o mergulho nas origens mitológicas do destino, que, segundo o autor grego, traça a vida do homem dominado pelos deuses, sem esperança.
O herói trágico grego tem que enfrentar um poder mítico sediado nos deuses, numa ideia de ética elevada sem redenção, o que é contrário à Graça de Deus revelada na Bíblia Sagrada e na Teologia Cristã.
Sófocles traça esse roteiro da desesperança, embora repleto de moralidade natural e lições de vida e de justiça, em quase todas as suas peças que chegaram até aos nossos dias.
O dramaturgo clássico ateniense, que viveu entre 495-406 a.C, escreveu entre 120 e 130 peças teatrais, ou poemas dramáticos, mas apenas sete chegaram à modernidade, e até hoje são o cânone de Sófocles.
São elas Édipo Rei, Édipo em Colono, Antígona, Electra, Ajax, As Traquínias e Filoctetas, que vão ser reunidas e publicadas agora, numa edição completa e única em português, depois de já termos lido algumas em edições autónomas e separadas, por exemplo, através das mãos eruditas dos profs. Agostinho da Silva ou Maria Helena Rocha Pereira.
As tragédias mais conhecidas e que continuam a impressionar a cultura ocidental, a arte e a estética dramáticas, a filosofia e, sobretudo, a ciência psicanalítica, são indubitavelmente Édipo Rei, Antígona e Electra.
Qualquer um destes monumentos da Literatura do Mundo, milenar e intemporal, da Antiguidade Clássica, traduzem aquela que era a visão de Sófocles, isto é, que o homem era um joguete nas mãos dos deuses, que o destino traçado