o último homem
OU O MODERNO PROMETEU
Mary Shelley
“Acaso, ó Criador, pedi que do barro
Me moldasses homem? Porventura pedi
Que das trevas me erguesses?”
John Milton,
Paraíso Perdido, X, 743-5
A
William Godwin, autor de
Political Justice, Caleb Williams etc, esta obra é respeitosamente dedicada pela
Autora.
Introdução da autora
Os editores de romances, ao decidirem publicar Frankenstein para uma de suas séries, ficaram curiosos para que eu lhes contasse sobre a origem da história. Aceitei com muito boa vontade, pois isso me dá a oportunidade de responder de um modo geral à pergunta que freqüentemente me fazem — como é que eu, então uma jovem, pude pensar e discorrer sobre um assunto tão horrível. É verdade que tenho total aversão a apresentar-me em letra de imprensa, mas, como minha explicação servirá apenas como apêndice para uma produção anterior e ficará restrita a assuntos ligados exclusivamente à minha qualidade de autora, dificilmente poderei acusar-me de uma intrusão pessoal.
Por ser filha de duas personalidades de notável celebridade literária, não é surpresa alguma que eu pretendesse escrever ainda no início de minha vida. Quando criança, eu rabiscava, e meu passatempo preferido durante as horas de recreio era escrever histórias. Eu tinha, porém, um prazer ainda maior que este, ou seja, construção de castelos no ar — permitindo-me sonhar acordada — a que se seguia uma torrente de pensamentos que tinha por objetivo a formação de uma sucessão de incidentes imaginários. Meus sonhos eram ao mesmo tempo mais fantásticos e agradáveis do que meus escritos. Nesses últimos, eu tinha muito de imitadora — fazendo mais o que os outros já tinham feito do que realizando as sugestões de minha própria mente. O que escrevia se destinava pelo menos a mais alguém — o companheiro e amigo de minha infância; meus sonhos, porém, eram só para mim; a ninguém os revelava, eram meu refugio quando eu estava aborrecida — meus mais caros prazeres quando me