O vestido de Maria Bonita e a escrita da História nos museus
No texto “o vestido de Maria Bonita e a escrita da História nos museus”, a autora discorre sobre seu encontro com o vestido em uma exposição no Museu Histórico Nacional. Ela descobre na ocasião que o vestido havia sido esquecido na reserva técnica do museu, perdendo-se inclusive a informação de sua procedência, até que um pesquisador, que estudava o tema do cangaço, contatou o museu dando detalhes físicos do vestido e o encontrou, trazendo à tona a sua origem. Quando Regina se depara com o vestido, surpreende-se com sua eloquência em meio a uma exposição de objetos sóbrios e desvestidos de significado imaginário.
Escreve sobre um tempo em que os museus eram repletos de personagens e cenas povoando o imaginário coletivo, instigados pelos objetos expostos e pela narrativa escolhida para as exposições. Neste tempo, a concepção de História não se bastava ao fato, mas partia para transmitir valores éticos através da evocação de cenas e exemplos de sabedoria. Mudou a forma de linguagem histórica usada nos museus, que passou a ser chamada moderna, tentava se apresentar imparcial e precisa e se afastava da imaginação fantasiosa. Essa nova visão da História focava nas grandes estruturas e se mostrava como resultado da ação de forças abstratas, banindo de si os personagens e suas linguagens representativas.
Chega então ao ponto de que hoje vivemos para além desta concepção de História moderna, onde se tem espaço para novas tendências através da percepção de que a História é construída pelo seu narrador (historiador), que articula a verdade através do que juga serem os fatos com base na autoridade do documento. Resgatam-se os personagens e valorizam-se as suas pequenas histórias em contextos únicos, “não mais para serem reverenciados, mas resgatando com suas experiências particulares a força da imaginação e da criação, sem perder em consistência e em informação”.