O verde que queremos
“Verde que te quiero verde. Verde viento. Verdes ramas.” (F. Garcia Lorca)
Mas pretendo ir além da inexistente beleza e da obsessão dos mercados, referentes a esta triste figura, o eucalipto. Nísio Miguel Tôrres de Miranda *
Há algum tempo, por questões afetivas e familiares, tenho deixado a capital de Minas e me dirigido ao município de Abaeté, no centro-oeste mineiro, terra belíssima e aprazível, circundada pelo
Ribeirão da Marmelada e pelo Velho Chico, além de extensa margem do lago de Três Marias. E, a cada ida e vinda, mais e mais me surpreende a paisagem surrealista que se pode vislumbrar de alguns pontos ao longo do caminho: o cerrado, pai das águas, berço de uma das diversidades biológicas mais ricas do mundo – ou o que resta dele naquela região – espremido e sufocado entre milhares de hectares de eucalipto, numa composição uniforme, uma onda enorme e ameaçadora e, se me permitem, feia! Feia e fora de contexto!
De alguma forma, os empreendedores até tentam manter longe da visão dos passantes a imensidão de suas culturas deixando, ao longo da estrada, resquícios da vegetação nativa, compondo o que poderíamos poeticamente chamar de uma “mata ciliar” à estrada, mas que não consegue impedir que vejamos o que se esconde por trás dela. Após uma ou outra curva, consegue-se ter a exata noção do quanto avançou a monocultura deste símbolo vegetal do capitalismo obcecado por conquistas urgentes, independentemente da sua viabilidade ambiental, social e econômica, hoje, tanto quanto num prazo mais longo. E o que é pior, muito distante dos interesses de sustentabilidade que todos aspiramos, hoje.
Mas pretendo ir além da inexistente beleza e da obsessão