O uraguai
Pelo Tratado de Madri, firmado entre Portugal e Espanha, em 1750, a Colônia dos Sete Povos das Missões do Uruguai, pertencente à Espanha, deveria passar a ser de Portugal, que, como contrapartida, cederia à Espanha sua Colônia do Santíssimo Sacramento. Ocorreu que, no momento de ser posta em prática esta cláusula do Tratado, os índios que habitavam os Sete Povos das Missões, orientados pelos jesuítas, se negaram a passar para o domínio dos portugueses. Por isso, em 1752, organizou-se uma expedição militar, integrada por portugueses e espanhóis, para submeter jesuítas e índios. Sob o comando de Gomes Freire de Andrade, Conde de Bobadela, as tropas guerrearam até 1756, sem o sucesso esperado. O poema épico O Uraguai descreve esse episódio, no qual o autor louva os feitos de Gomes Freire de Andrade, num elogio à política pombalina e em grave ataque aos jesuítas, enquanto os índios recebem tratamento positivo do autor. Também está implícito no poema o conflito entre a ordem racional da Europa, representada pelos portugueses, espanhóis, jesuítas, e a vida primitiva, sensorial, intuitiva do índio. Sob este último aspecto, é curioso de se notar que o autor, embora tenha composto o poema para ser um hino laudatório ao feito militar de portugueses e espanhóis, na pessoa de Gomes Freire de Andrade, o que de fato se lê nos cinco cantos da epopéia é uma louvação ao índio do novo continente com suas virtudes naturais intrínsecas. Na verdade, isto faz com que devamos considerar O Uraguai não como uma epopéia, mas, primeiramente, como uma obra lírica, depois heróica, e por fim didática. E, embora o poema pretenda realçar os feitos bélicos dos colonizadores, o que mais é valorizado são os nativos, fazendo com que o índio Cacambo tenha mais presença do que Catâneo (Gomes Freire de Andrade) e a heroína Lindóia seja muito bem apresentada como realização literária. Na cena de sua morte, de grande apelo, a adjetivação usada pelo autor – uma de suas marcas características –