A dois séculos d’ O Uraguai
Antônio Cândido resume o assunto d’ O Uraguai à luta das tropas aliadas espanholas e portuguesas contra os índios aldeados nas missões jesuíticas do atual estado do Rio Grande do Sul, que recusavam executar o estabelecido no tratado de Madrid (1750).
O mesmo autor defende que Basílio exagera ao descrever poeticamente um acontecimento militar de pouco relevo, que dificilmente constituiria matéria épica, podendo, assim, tal assunto servir mesmo de pretexto para a divulgação da propaganda antijesuítica já consubstanciada no regime pombalino.
Ainda de acordo com o autor O Uraguai pertence a um momento complexo que envolve politica e religião atreladas à conquista do poder nas colônias e se assume injusto frente à polêmica, no entanto, adverte Cândido que é possível enxergar mais coisa na sua estrutura, separando-se além do ataque ao jesuíta, a defesa do pombalismo e o encantamento plástico pelas formas do mundo americano, incluindo a simpatia pelo índio; todas essas temáticas entrecruzam-se em volta do argumento principal: centralizado pela figura do herói, Gomes Freire de Andrada.
Esboça o autor que o primeiro canto descreve a união das tropas aliadas. O herói Gomes Freire conta aos espanhóis a teimosia dos padres e a campanha anterior que o fez retirar-se pela enchente do rio. No canto segundo o exército segue avante e se aproxima dos inimigos, os caciques Cepé e Cacambo, os quais procuram Gomes Freire como embaixadores. No diálogo entre as duas partes sente-se o choque de culturas e interesses, trava-se um combate resultando na derrota e retirada dos índios.
No canto terceiro, Cacambo é inspirado por um sonho e ateia fogo ao acampamento aliado, foge para sua aldeia, lá o padre Balda o instiga a matar e prender com o intuito de dar ao filho a posição de Cacambo e a sua esposa Lindóia, esta tem uma revelação por intermédio de uma nigromante, vê o terremoto de Lisboa, maquinações dos jesuítas e suas expulsões, enfim o marido vingado.