O tempo nos maias.
Os acontecimentos narrados têm de ser contextualizados num determinado espaço e num determinado momento. O tempo não só estabelece a duração da acção como marca a sucessão cronológica dos vários acontecimentos – tempo da história – e os contextualiza historicamente – tempo histórico. É importante distinguir ordem temporal de ordem textual, pois se os acontecimentos se registam numa determinada ordem cronológica – ordem temporal – isso não implica que tenham de ser relatados por essa ordem de sucessão – ordem textual ou tempo do discurso. Quando há um desencontro entre a ordem temporal e a ordem pela qual os acontecimentos são narrados, ou seja, entre o tempo da história e o tempo do discurso, diz-se que há anacronia. Para este desencontro – anacronia – podem contribuir a analepse, ou seja, um recuo no tempo através da evocação e relato de factos passados; a prolepse, ou seja, um avanço no tempo, pela antecipação de acontecimentos futuros.
Distingamos o TEMPO DA HISTÓRIA (tempo cronológico ou tempo diegético) e o TEMPO DO DISCURSO (tempo da narrativa).
a) Tempo da História é aquele que se desdobra em dias, meses e anos e que é vivido pelas personagens. Nesta obra, o autor dá-nos referências cronológicas concretas da história de três gerações de uma família, embora não tendo todas o mesmo destaque.
É fácil delimitar n’ Os Maias o tempo da história, o qual, como tempo cronológico, é linear e uniforme. A acção d’ Os Maias decorre no século XIX, de 1820 a 1887.
Assim, é fácil identificar-se, embora não com rigor, a altura em que Afonso da Maia, para desgosto de seu pai, Caetano da Maia, miguelista, fora “o mais feroz jacobino de Portugal” e “atirava foguetes de lágrimas à Constituição” (entre 1820 e 1822); é clara a indicação da data de 1875, em que Afonso da Maia e Carlos começaram a habitar o Ramalhete (“A casa que os Maias vieram habitar no Outono de 1875”); a data de “Janeiro de 1877”, em que Carlos e Ega partem para o estrangeiro, também é facilmente