O TATU, DE DONALDO SCHÜLER
O tatu é um homem relativamente jovem, pobre, sozinho, sem objetivo de vida e marginalizado. É primo irmão do Jeca Tatu, despojado de tudo ao longo de todas as vicissitudes da formação da nacionalidade. É índio, o último representante de uma tribo tupinambá arrasada pela chegada dos brancos, que destruíram suas florestas, sua comida e os próprios índios que ali viviam. Os remanescentes se refugiavam em cavernas, como é o caso do tatu. “Tinham matado os seus parentes e o seu povo. Se não tinha motivo para viver, também não o tinha para morrer. Não progredia, nem regredia” (pag. 14). No povoado em que vivia, o tatu era tratado como bicho. As pessoas tinham medo dele e respeitavam o seu espaço, ninguém ousava chegar perto da caverna. Deixavam comida no fundo de suas casas para ele comer, criavam lendas e histórias para assustar as crianças, responsabilizavam-no de objetos roubados, diziam que doença era praga do tatu. Quando veio a revolução, os imperiais o pegaram e o levaram para guerrear. O tatu era fiel e submisso, não demonstrava medo, tudo o que diziam para ele fazer, ele fazia sem falar nada.
O tatu era nascido na serra gaúcha, assim como o seu pai. Seu avô era imigrante e tinha subido para a serra. Lá eles tinham terras, mas com a morte de seu avô e de seu pai o tatu vendeu-as e foi para a cidade com sua mulher e filhos. Arrumou um emprego na prefeitura, serviço de picareta, fazia buracos nas ruas