O suicidio na pauta jornalistica
Por Carolina Pompeo Grando em 29/06/2010 na edição 596
Existe uma convenção profissional extra-oficial, uma espécie de acordo entre cavalheiros, que determina: suicídios não serão noticiados pela grande imprensa. Ninguém sabe exatamente quando foi que este acordo foi selado, nem precisamente por que. O fato é que ele existe, mas aos poucos e discretamente tem sido descumprido: notícias sobre suicídios são publicadas, sim. Às vezes de modo sensacionalista, outras de modo superficial, e poucas de maneira aprofundada. Ainda assim, linhas editoriais e profissionais de imprensa sustentam que nas páginas de seus jornais não há espaço para suicídios. Por quê?
Talvez o suicídio seja colocado à margem da ação jornalística por ser um ato individual cujas motivações são bastante íntimas e particulares. No entanto, os índices de suicídio no mundo e no Brasil aumentam a cada ano. Esse aumento nos números de tentativas e mortes efetivas por suicídio o caracteriza como um tema de interesse social, como um fenômeno social. E é dos interesses e fenômenos da sociedade que a imprensa trata. O jornalismo, enquanto agente construtor do imaginário coletivo, reflete e suplanta pensamentos coletivos, ora promovendo a manutenção de tabus, ora sugerindo novas formas de conceber os acontecimentos do mundo.
Tensões e perturbações nas relações sociais
A violência em geral não é mais tabu no sentido proposto por Cazeneuve (1958) – em que tabu seriam proibições tanto na esfera da ação como na esfera do pensamento e do discurso. Na prática diária da convivência em sociedade, episódios de grande violência não são mais raros ou exclusivos de uma parcela marginalizada da população e o fato de algumas práticas serem consideradas tabus não é impedimento para que as mesmas ocorram com frequência. Diariamente, podemos ler nos jornais sobre acontecimentos que, até se tornarem efetivamente fatos, poderíamos supor impossíveis ou ao menos improváveis, dada a extrema