O significado de cúpula
Vasari foi o primeiro a observar que a cúpula de Santa Maria Del Fiore não devia ser relacionada apenas ao espaço da catedral e respectivos volumes, mas ao espaço de toda a cidade, ou seja, a um horizonte circular precisamente ao perfil das colinas em torno de Florença. Também estava relacionada ao céu que domina aquele horizonte de colinas e contra o qual “parece que realmente combata”- “ e, na verdade, parece que o céu dela tenha inveja pois sem cessar os raios todos os dias a procuram”.
Dizer que a cúpula “erguia-se acima dos céus” era sem duvida uma figura literária, mas não um contrassenso; ao contrario era dizer exatamente a mesma coisa que um século depois Vasari dirá.
Nos anos em que se escrevia o Tratado da pintura e o De Statua Alberti refletia a fundo sobre o tema da representação. Distinguia ele pelo menos dois modos de representação-ficcção: a pintura, que através de projeção perspéctica representava a realidade de três dimensões em um plano de duas dimensões; a escultura, que representava um objeto de três dimensões em outro tridimensional. A cúpula é uma representação porque visualiza o espaço, que por certo é real ainda que não seja visível; mas ela é justamente a representação do espaço em sua totalidade e não de algo que acontece numa porção do espaço. Segundo Alberti, em De re aedificatoria, os edifícios são objetos que estão num espaço cheio de outros objetos e que, como tais, não são muito diferentes da estatuas, tanto assim que a palavra “monumento” vale tanto para certas arquiteturas como para certas estatuas, ou esculturas em relevo pleno, contanto que tenham um certo conteúdo histórico-ideológico.
Aquela grande forma representativa (e não puramente simbólica) do espaço universal, que surgiu quase por milagre intelectual bem no meio de Florença, acima dos telhados das casas em relação direta com o horizonte visível das colinas e com a abóbada dos céus, não é uma massa ou algo fechado e pesado, mas uma