O Serviço Social e as Ciências Sociais
No atual debate acerca da relação entre Serviço Social e a categoria trabalho, está em exame muito mais do que uma questão operativa, instrumental ou de identidade profissional. Sem negar que tais aspectos estejam pontualmente presentes, e podem ser a preocupação mais direta de um ou outro texto – mesmo nesses casos, e independente das intenções imediatas, há muito mais em jogo que a “instrumentalidade” de uma dada prática profissional. Neste capítulo, de forma breve e introdutória, desejamos chamar atenção para um primeiro aspecto do problema, qual seja, uma alteração na posição relativa do Serviço Social face ao conjunto das Ciências
Humanas e como essa alteração impactou o atual debate acerca da identidade entre a prática dos assistentes sociais e o trabalho.
I.A reação à raiz conservadora do Serviço Social resultou em um movimento que, com avanços e recuos, terminou por estabelecer como um dos referenciais da profissão a busca de uma sociedade sem classes (Netto, 1990). Ainda que possa e deva ser objeto de considerações de várias ordens, e ainda que ele não seja recebido da mesma forma pela totalidade dos assistentes sociais, tal referencial teve o enorme mérito de fazer do Serviço Social a única profissão a conter no seu código de ética uma explícita menção à necessidade de superação da alienada sociabilidade capitalista.
Esta trajetória é ainda mais significativa porque, aproximadamente nesta mesma época, as correntes teóricas dominantes nas Ciências
Humanas percorreram o caminho inverso. A main stream, como era moda dizer há pouco, das ciências sociais se curvou ao pesadoinfluxo do neoliberalismo e do pós-modernismo, do fim da URSS e da “vitória definitiva do capitalismo”; ficou atônita frente àquilo que, em momentos de quase delírio, anunciou-se como a “Terceira
Revolução Industrial” e/ou “fim da sociedade do trabalho” e, por fim, encantou-se além de todas as medidas com as possibilidades