O SER E O VIR-A-SER: DE HERÁCLITO A PARMENIDES
Joilson Lima de Jesus
A propósito do livro O Poder: Uma Nova Análise Social, de Bertrand Russell, George Orwell comenta: "descemos a um ponto tal que a reafirmação do óbvio é o primeiro dever dos homens inteligentes" (1939, p. 107). Que sem um ensino de qualidade não é possível existir investigação de qualidade é uma dessas verdades óbvias que infelizmente é hoje preciso defender, explicar e reafirmar. O desprezo pela excelência do ensino é grave nas universidades que lideram a investigação a nível mundial (Stuntz, 2006), mas é caricato nas universidades que em nada contribuem efetivamente para o avanço do conhecimento da humanidade. Nestas universidades, sob a pomposa expressão "investigação", o que se faz é meramente a repetição e o comentário inócuos do que os outros verdadeiramente investigam. A "investigação" feita nestas universidades nada muda, nada transforma, nada contribui para o alargamento da nossa compreensão das coisas. O exemplo da filosofia e as outras disciplinas das chamadas "humanidades", são as mais vulneráveis ao mau ensino — e consequentemente, à incapacidade das universidades para formar bons investigadores nestas áreas. Nos cursos de física, matemática ou biologia, a falta relativa de qualidade manifesta-se unicamente numa certa mecanização na transmissão das matérias, eventualmente algum desconhecimento dos desenvolvimentos científicos relevantes mais recentes e na insensibilidade à importância do espírito crítico. Mesmo numa universidade menos boa, contudo, os melhores estudantes podem concluir o primeiro ciclo de estudos com um conhecimento minimamente sólido de alguns aspectos centrais da sua área: por outras palavras, aprenderam efetivamente alguns aspectos centrais da física, da matemática ou da biologia. Do modo como algumas universidades formam os seus estudantes, parece que terminar um curso de filosofia quase garante que terão um desprezo profundo por aqueles mesmos valores