O sentido do Brasil
Uma das obras mais comentadas e importantes da historiografia brasileira do século XX, “Formação do Brasil Contemporâneo”, de Caio Prado Júnior (1907-1990), publicada originalmente em 1942, continua sendo atual para a compreensão do nosso país. Este ano marca o centenário de nascimento deste grande historiador – cujo pensamento possuía referência no materialismo histórico – nada melhor, então, do que reavivarmos sua interpretação do Brasil.
O processo de formação do Brasil é desenvolvido por Caio Prado Jr. através daquilo que denomina “O sentido da colonização”, no esforço de esclarecer os meios de atuação da Metrópole para com o Brasil. O livro está dividido em três partes: “Povoamento”, “Vida material” e “Vida social”, cujos argumentos desenvolvidos complementam e remetem – porque são decorrentes – ao primeiro capítulo, “O sentido da colonização”.
Sua análise do período colonial brasileiro toma como pauta o início do século XIX, momento considerado síntese dos três séculos de colonização, momento chave para interpretar o Brasil que o autor vivencia e encontrar um sentido para o país.
O sentido da colonização estaria nos três séculos de exploração metropolitana, no que tange de fundamental e permanente, ou seja, nos fins mercantis e no povoamento necessários para a organização de gêneros tropicais rentáveis para o comércio. A colonização dos trópicos fez surgir uma sociedade original, baseada numa empresa do colono branco, de caráter mercantil, para produção de gêneros de grande valor comercial, com trabalho de indígenas ou negros africanos. Este conceito de Caio Prado foi um esforço de pensar o capitalismo mundial articulado à colonização do Brasil, que posteriormente seria seguido por outros historiadores.
O povoamento do território brasileiro, que o autor apontou como desequilibrado entre o litoral e o interior, foi fruto do caráter da colonização. Em torno de 60% da população colonial concentrava-se no litoral. A