O SABER LOCAL: novos ensaios em antropologia interpretativa.
Tradução de Vera Mello Joscelyne. Petrópolis, Vozes, 1997, 366 pp.
Afirmar que Clifford Geertz é um nome conhecido na antropologia brasileira hoje é reiterar o óbvio. Já na graduação os alunos de Ciências Sociais entram em contato com os textos deste antropólogo americano, pioneiro no desenvolvimento da antropologia "interpretativa" que, em diálogo com a hermenêutica de Hans-Georg Gadamer e Paul Ricoeur, marcou indelevelmente os rumos da disciplina a partir dos anos 70, desencadeando direta ou indiretamente o fortalecimento da chamada "antropologia pós-moderna".
O que não é tão óbvio assim é que até o início deste ano um autor tão estudado aqui tenha tido apenas um dos seus livros traduzidos para o português – e mesmo assim, não se trata de uma tradução integral. Eis o que torna muito bem-vinda a edição recente e integral de Local knowledge: further essays in interpretive anthropology, que o público brasileiro recebe "antes tarde do que nunca". Afinal, temos de levar em consideração que, neste caso, o livro foi lançado no país de origem em 1983 e só chega ao Brasil, agora, passados quinze anos.
Seguindo o princípio de que "quem diz A fica forçado a dizer B" (p. 9), Geertz amplia, nos oito ensaios que compõem o livro Conhecimento local (e não "saber" local – como argumentaremos adiante), as proposições formuladas pela primeira vez dez anos antes, em A interpretação das culturas, e referentes a uma antropologia que trate os fenômenos culturais como sistemas significativos e, portanto, passíveis de interpretação. O autor sabe, em 1983, que a sua abordagem se tornou popular nas ciências sociais. Neste sentido, vale, em Conhecimento local, retomar as premissas teóricas e metodológicas da abordagem interpretativa no sentido de situá-las em relação aos rumos recentes do "pensamento moderno" sobre o social, cada vez menos "provinciano" e mais "pluralista", e que abdica de teorias gerais em favor de um