O que é arte? - fichamento

Fichamento
O que é Arte
O "para nós" e a modificação da obra
É do fim do século XVIII para cá que a nossa concepção de arte alarga-se, conquistando, cada vez mais, novos terrenos: descobre se a arte oriental, a egípcia, a popular, a "ingênua", a africana, a oceânica, a arte industrial, os graffiti, etc.
Colocar os objetos artísticos "para nós" significa fazê-los vir de outras culturas e outros tempos.

É no questionamento dessa atitude que se encontra o gesto de Marcel Duchamp: incluir, numa exposição, um mictório. Não se trata, de valorizar o design do mictório, transformado em vaso de flores, o urinol de porcelana inglesa de nossas avós.
Muito ao contrário, a atitude de Duchamp era, baseada no princípio da provocação. O que chamava ready-made (objetos fabricados em série, mas desviados das suas funções pela sua instalação numa galeria, num museu), os mictórios, porta garrafas, rodas de bicicleta que ele impõe ao público culto, obrigam esse mesmo público a reconhecer que um objeto só é artístico porque foi aceito como tal pelas diversas "competências": pelo museu, pelo crítico, pelo historiador.

O interesse da atitude de Duchamp dentro do domínio da arte é: crítica à atitude solenemente "culta" que nossa civilização confere ao contacto com o objeto artístico; denúncia do aspecto convencional da atribuição do estatuto de arte pelos instrumentos da cultura; criação de uma antiarte. Mas, supremo poder desses instrumentos culturais, os objetos de Duchamp, que deveriam ser apenas testemunhos de um gesto de questionamento, conservados em museu adquirem efetivamente o estatuto de arte.
O mictório que, pela sua função receptora de excremento, evoca o lado animal, orgânico e portanto menos "nobre" do homem, está nos antípodas da concepção de arte como instrumento de elevação do espírito: é antiarte por excelência. Convertido em peça de museu, assume o papel de objeto de contemplação, passa a provocar "sentimentos" no espectador. Aliás, esta função "artística"