O que e leitura, maria helena
Nos tempos das arábias, há muitos anos, um velho e rico mercador contratou os serviços de um cozinheiro idoso, encurvado, feio, mas com a fama de ser um verdadeiro sábio. Logo, para provar as qualidades de seu criado, o mercador ordenou:
– Toma esta sacola de moedas. Corre ao mercado e traze de lá o que houver de melhor para um banquete. Eu quero a melhor comida do mundo!
Pouco tempo depois, o cozinheiro voltou do mercado e colocou sobre a mesa um prato coberto por fino pano de linho. O mercador levantou o paninho e ficou surpreso:
– Oh, língua? Muito bem! Nada como a boa língua que nossos pastores sabem tão bem preparar. Mas por que escolheste exatamente a língua como a melhor comida do mundo? O cozinheiro, de olhos baixos, explicou sua escolha:
– O que há de melhor do que a língua, senhor? A língua que falamos é que nos une. Sem a língua não poderíamos nos entender. A língua, a compreensão do idioma, é a chave das ciências, o órgão da verdade e da razão. Graças à língua é que se constroem as cidades, graças à língua pode- mos declarar o nosso amor. A língua é o órgão do carinho, da ternura, da compreensão. É a língua que torna eternos os versos dos grandes poetas, as ideias dos grandes escritores. Com a língua se ensina, se persuade, se instrui, se reza, se explica, se canta, se descreve, se elogia, se demonstra, se afirma. Com a língua dizemos “mãe”, “paz” e “Deus”. Com a língua dizemos “eu te amo”! O que pode haver de melhor do que a língua, senhor?
O mercador levantou-se entusiasmado:
– Muito bem, muito bem! Realmente tu me trouxeste o que há de melhor. Toma ago- ra esta outra sacola de moedas. Volta ao mercado e desta vez compra lá o que houver de pior, pois quero provar a tua sabedoria!
Depois de algum tempo, o criado voltou do mercado trazendo outro prato coberto por um pano. O mercador recebeu-o com um sorriso:
– Hum... já sei o que há de melhor. Vejamos agora o que há de pior...
O mercador