O Pasquim no cenário dos anos 1970
Iniciemos nosso percurso no tempo e voltemos a 1969, ano de criação do Pasquim, que nasce com as marcas do Ato Institucional nº 5 (13/12/1968) e do recrudescimento da ditadura militar no Brasil, quando se tenta anular, pelo uso da força e da censura, toda a efervescência mobilizadora do período anterior, quando acontece a erupção cultural daquilo que já se verificava após duas décadas de transformações econômicas e sociais sem precedentes, representando no Brasil a aceleração dos processos de modernização e o crescimento dos movimentos sociais.1
No mundo ocidental, uma tempestade de conflitos caia sobre uma cultura em trânsito, exigindo transformação. A movimentação de idéias e experiências se globaliza, chegando ao Brasil na expressão do descontentamento político e social diante de um mundo tecnocrático2 e autoritário.
Na cultura brasileira, o processo de transição se fazia na tentativa de adaptação ao nível de desenvolvimento que o capitalismo atingira no Brasil naquela década, e as determinações que este modelo implicava com relação às peculiaridades de uma cultura que se desenvolvia hibridamente, manifestando tanto a resistência das instituições arcaicas quanto à necessidade de superá-las, buscando uma identidade cultural que se confundia com o ideal nacionalista, ao passo que a modernização rápida e violenta, mas também necessária vinha de fora.
Ao mesmo tempo em que se abria ao mundo, a cultura brasileira se via encarcerada e sob as "armas" da ditadura militar. Alçada no medo, na repressão e na censura, e forjada na ideologia do desenvolvimento e da segurança nacional, consolidava-se a política de modernização conservadora.
Era natural que o sistema - que tentava consolidar-se através de uma base sólida de poder - visse nos centros de criação cultural focos de agitação e insubordinação, de ameaça e resistência à sua implantação, pois ao longo da história a criação cultural significou insubmissão e seus