O papel da mídia no episódio do mensalão
A partir da análise da cobertura do episódio do Mensalão – considerado o maior escândalo político desde o impechmant do presidente Collor (1990) – o presente artigo pretende analisar como a cobertura constituiu o embate político entre o então chefe da Casa Civil, José Dirceu e o deputado e presidente do PTB, Roberto Jefferson, e como se deu essa construção simbólica do conflito, mediada pelas estratégias discursivas da mídia impressa. Lembrando que tal artigo foi escrito antes do julgamento do Mensalão pelo Supremo Tribunal Federal em 2012. Este recorte, objeto do presente artigo, faz parte de uma análise mais ampla que recobre todo o episódio do Mensalão, que durou de junho a dezembro de 2005, e que é alvo da minha tese de doutoramento.
A idéia é contribuir para a compreensão da relação entre os campos político e da mídia, a partir da premissa de que a mídia, com seu poderoso arsenal enunciativo faz prevalecer o discurso que defende, e cria para o leitor o efeito de real desejado. O Mensalão, denominação dada ao esquema de compra de votos de parlamentares pelo partido do Governo, foi um episódio que teve o seu desencadeamento em junho de 2005 e ainda hoje está inconcluso. O retalho do escândalo, que será aqui analisado, teve como palco uma comissão parlamentar de inquérito instaurada no Congresso Nacional e o depoimento de José Dirceu ao Conselho de Ética da Câmara dos Deputados, que aconteceu no dia 2 de agosto de 2005. A imprensa escrita, ao cobrir o episódio, optou por criar uma narrativa muito semelhante à cobertura de uma epopéia cavalheiresca a la Don Quixote com a apropriação de termos como duelo, combate, heróis e vilões.
Apesar do recorte metodológico apontado, não será deixado de lado a apreciação sobre o enfoque da cobertura geral, que é fundamental para a compreensão da análise. O corpus da presente pesquisa foi constituído pela cobertura do dia 4 de agosto de 2005 pela F. de São Paulo. A cobertura –