O Olhar Geogr Fico
De olho na Geografia
O OLHAR DE UM PROFESSOR DE GEOGRAFIA
Por Celso Antunes
Pense em um cientista debruçado sobre um microscópio e acompanhando com atenção e interesse a evolução de uma célula qualquer. Com essa descrição não é possível saber em qual ramo das ciências se concentra seu estudo, mas uma coisa é certa. Esse cientista, provavelmente, não é um geógrafo, pois Geografia é a ciência dos espaços amplos, das grandes paisagens. Um biólogo, por exemplo, pode dedicar sua vida de pesquisas a uma folha ou a único inseto. Um geógrafo não ignora essa folha e esse inseto, mas o examina no amplo contexto da paisagem em que o inseto ou a folha se encontram e qual o papel deste contexto sobre sua vida e o papel de sua ação transformando esta paisagem.
Para o biólogo a folha e sua árvore, o inseto e seu habitat, para o geógrafo a paisagem vegetal e seu espaço, o mundo animal e suas correlações com a natureza e com as pessoas.
Esse cuidado é sempre muito importante para quem ensina a Geografia. Não existe um fato geográfico em um único fenômeno, seja esse acidente um planalto ou uma cidade, e sim na análise cuidadosa desse fenômeno interagindo com seu entorno e suas muitas relações com as pessoas.
Um vulcão, por exemplo, torna-se “fato geográfico” quando se localiza o lugar em que está, quando se examina suas características e origem, se percebe sua ação e os riscos sociais da mesma. Quando se examina a lava que expeliu e que, tempos depois, se transformou em solo, justificando a ocupação humana e a atividade agrícola, exigindo estradas e tornando viável o comércio dos produtos que se cultiva e de outros tantos necessários a esses agricultores. Como bem explicava o geógrafo Milton Santos (SANTOS, MILTON. A natureza do espaço: técnica e tempo: razão e emoção. São Paulo, Hucitec,