O mundo e a percepção do mundo. Muita gente acha que o mundo é grande e a percepção é um recorte, e ai a gente vai recortando os mundos a cada segundo, e a cada segundo o mundo se apresenta para nós numa certa, numa janela, numa certa imagem. E aí é claro que como ninguém está no lugar que estamos, o mundo acaba ficando um para cada um, porque num certo instante, ninguém vê a mesma coisa que o outro. Até quando conversamos assim, o mundo para você sou eu e o mundo para mim é você, nenhuma coincidência. Então a única pergunta é: como ter certeza que estamos no mesmo mundo? Se cada um vê uma coisa, se cada um sente uma coisa, se cada um percebe um mundo diferente? De qualquer maneira, eu percebo o meu, a cada segundo, e não tenho nenhuma expectativa que percebam o mesmo mundo que eu. Mas o mundo está cheio de tiranos, pessoas que fazem questão de que todos concordem com ele, que exigem que todos nós vejamos a mesma coisa do mesmo jeito e da mesma perspectiva, e assim, de tirano em tirano, ás guerras, guerras por perspectiva, guerras de percepção. Ora, quando observamos o mundo, muitas vezes acabamos caindo na ingênua crença do que o que vemos é o que é. Sem percebermos, que o que é, sempre nos escapará, o que vemos na verdade conta muito mais de nós do que do mundo, basta pegar um microscópio e a mesa deixa de ser mesa. Na verdade, as coisas que se apresentam diante de nós são muito mais vazias do que coisas. Os átomos em movimento são muito mais vazios do que qualquer coisa. E os núcleos dos átomos, que até ontem pareciam ser verdadeiras substancias confiáveis, hoje também sabemos, são muito mais vazios do que qualquer outra coisa. Talvez só haja vazio, será mesmo tudo só uma ilusão? A final de contas, tudo que eu percebo do mundo, no final das contas, percebo em mim, o mundo não passa do meu próprio corpo afetado pelo mundo. Assim, quando eu apalpo alguma coisa, o que sinto não é alguma coisa, mas a minha mão, apertada, constrangida pelo mundo apalpado. Quando eu