O MUNDO ASSOMBRADO PELOS DEMONIOS
O Mundo Assombrado Pelos
Demônios
A CIÊNCIA VISTA COMO UMA VELA NO ESCURO
Ao Tonio, meu neto
Desejo-te um mundo Livre de demônios e cheio de luz,
Esperamos a luz, mas contemplamos a escuridão.
Isaías 59, 9
É melhor acender uma vela que praguejar contra a escuridão.
Adágio popular
PREFÁCIO
MEUS PROFESSORES
Era um dia de tormenta no outono de 1939. Fora, nas ruas ao redor do edifício de apartamentos, as folhas caíam e formavam pequenos redemoinhos, cada uma com vida própria. Era agradável estar dentro de casa, a salvo e quente, enquanto minha mãe preparava o jantar na cozinha ao lado. Em nosso apartamento não havia meninos maiores que implicassem com os menores sem motivo. Precisamente, na semana anterior me havia visto envolto em uma briga... não recordo, depois de tantos anos, com quem; possivelmente fora com o Snoony Ágata, do terceiro piso... e, depois de um violento golpe, meu punho atravessou o cristal da vitrine da farmácia do Schechter.
O senhor Schechter se mostrou solícito: “Não se preocupe, tenho seguro”, disse enquanto me lubrificava o pulso com um antiséptico incrivelmente doloroso. Minha mãe me levou a médico, que tinha a consulta na planta baixa de nosso bloco. Com umas pinças extraiu um fragmento de vidro e, provido de agulha e linha, aplicou-me dois pontos.
“Dois pontos!”, tinha repetido meu pai de noite. Sabia de pontos porque era cortador na indústria da confecção; seu trabalho consistia em cortar com uma temível serra elétrica moldes — as costas, por exemplo, ou mangas para casacos e trajes de senhora— de um montão de tecido. Continuando, umas intermináveis fileiras de mulheres sentadas diante de máquinas de costurar. Agradava-lhe que me tivesse zangado tanto para vencer minha natural timidez.
Às vezes é bom devolver o golpe. Eu não tinha pensado exercer nenhuma violência. Simplesmente ocorreu assim. Snoony me empurrou e, no momento seguinte, meu punho atravessou a vitrine do senhor Schechter. Eu