O monge e o executivo
Recorrentemente se fala muito em superávit ou déficit comercial, os economistas e a imprensa sempre alertam sobre o perigo de um déficit na balança comercial.
Então por que esta preocupação, para não dizer obsessão, para que o país apresente um superávit comercial (quando as exportações são maiores do que as importações)? Qual seria o sentido de exportar sem importar?
Do ponto de vista do cidadão brasileiro, as exportações de soja, laranja, café e aço do país só lhe são boas porque trazem dólares que lhe permitem importar iPads, notebooks, livros, carros e várias outras coisas. Fora isso, as exportações não lhe são nada vantajosas. Ao contrário até: quanto mais um país exporta, menor será a oferta desses bens exportados no mercado nacional. Quanto maior a exportação, menor será a oferta desses produtos para os brasileiros, o que significa que seus preços no mercado interno serão maiores do que poderiam ser caso não fossem exportados. De modo geral, sempre que a balança comercial apresenta um superávit recorde, isso significa que o cidadão brasileiro foi privado de uma maior oferta de bens, tanto aqueles produzidos nacionalmente e que foram exportados, quanto aqueles produzidos no estrangeiro e que não puderam ser importados por restrições governamentais.
Os governos fazem isso por que em primeiro lugar, o governo precisa de dólares para compor suas reservas internacionais e para intervir no mercado de câmbio, ambos (governo e exportadores) trabalham juntos. Um precisa da ajuda do outro. Importação significa saída de dólares. E saída de dólares significa governo perdendo capacidade de fazer política cambial para ajudar o setor exportador. Ou seja, importar vai contra interesses tanto do governo quanto do setor exportador.
Exemplo disso é a crise na década de 1980 onde no auge da crise da dívida externa o governo praticamente baniu as importações e estimulou ao máximo as exportações